O novo mercado da Terceira Idade

15/08/2019

Texto originário de: Jornal de Negócios, escrito por: Diego Braga Norte. Adaptado por: Equipe Aloemed

Empreender para os novos idosos

O Brasil está envelhecendo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, entre 1940 e 2017, a expectativa de vida no País aumentou em mais de 30 anos, atingindo os atuais 76 anos. Hoje, 15% da população brasileira é formada por idosos. Em 2050, o Brasil já terá mais pessoas acima dos 60 anos do que jovens, com idades entre 15 e 24, enquanto que, em 2060, o índice de idosos atingirá 25%.

Empresária Marcia Sena, idealizadora e proprietária da Senior Concierge.
Empresária Marcia Sena, idealizadora e proprietária da Senior Concierge.

Diante desse fato demográfico, surgem necessidades para consumidores e abrem-se oportunidades para empreendedores. Quem souber captar os anseios, entender os hábitos de consumo e os perfis de comportamento dos idosos vai encontrar um mercado em crescimento nos próximos anos. A empresária Marcia Sena buscou inspiração em sua atividade profissional e pessoal para criar uma empresa prestadora de serviços para pessoas com mais de 70 anos que precisam de suporte para manter a qualidade de vida e a organização da rotina. Ela sempre trabalhou em marketing na área da saúde e, dentro de casa, tinha de se desdobrar para cuidar dos filhos e da mãe. "Minha mãe era bem doentinha, suas dificuldades tiveram impactos grandes na minha vida", conta.

Como a mãe dela precisava de atenção constante, Marcia sempre teve de lidar com cuidadores de idosos, mas as ofertas limitavam-se a contratos de 12 ou 24 horas, sem flexibilidade nenhuma. "Quando eu ou minha irmã estávamos em casa, mamãe não precisava de mais um cuidador. Eu vi nessa dificuldade a oportunidade de ofertar serviços mais flexíveis, personalizáveis", diz. Criada em 2015, a Senior Concierge foi uma das pioneiras em introduzir no Brasil o conceito de "aging in place", já utilizado nos Estados Unidos, Japão e Europa. Essa postura garante aos idosos a possibilidade de seguirem vivendo em suas casas, com acompanhamento apenas pontual e para determinadas funções.

"Muitos idosos de até mais de 80 anos têm condições de morar sozinhos. Eles precisam apenas de suporte, não de cuidados 24 horas", explica. A empresa trabalha tanto com prevenção de acidentes, adaptando espaços domésticos, como com cuidadores. Marcia, aliás, evita usar o termo 'cuidador'. "Há preconceito e temor com a palavra, muitos idosos não gostam. Com razão, eles dizem: 'não estou doente, não sou criança". Assim, os acompanhantes treinados criam atividades lúdicas, promovem estímulos físicos, sociais, mentais e ajudam a manter a organização da residência. "Alguns velhinhos querem e precisam de companhia, alguém que converse, ouça, ria junto. Esse convívio social ajuda na cognição e na parte física." Como conselho para quem deseja investir em um negócio na área, a empreendedora diz que seu arrependimento foi não ter feito um plano de negócios profissional e consistente desde o início. "Comecei a empresa em casa e bati muito a cabeça, poderia ter feito diferente e sofrido menos." Hoje, a Senior Concierge tem seis funcionários contratados e cerca de 40 colaboradores, entre enfermeiros e acompanhantes.

De Porta A Porta

Tela inicial do aplicativo Eu Vô.
Tela inicial do aplicativo Eu Vô.

O empreendedor Gabriel Barbosa é outro que experimentou na pele as dificuldades em lidar com pessoas que precisam de cuidados especiais ou que têm mobilidade reduzida. "Minha mãe tem esclerose múltipla e sempre precisou de ajuda para se locomover. Também tenho um avô internado em instituição psiquiátrica, que precisa de cuidados constantes", afirma. Ele e sua irmã - e sócia - Victória Barbosa fizeram pesquisas de mercado e decidiram criar um serviço de locomoção urbana e acompanhamento exclusivo para idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Com o aplicativo batizado de Eu Vô, a startup criada em 2017 faz o transporte "de porta a porta, mesmo", explica Gabriel.

Ele ressalta o "mesmo" afirmando que os motoristas são também acompanhantes e, desde que avisados previamente no aplicativo, podem ajudar os passageiros idosos em bancos, supermercados, clínicas e outras atividades. Com sede em São Carlos, a empresa já conta com 14 motoristas e 180 usuários cadastrados. "Temos taxa de recorrência muito boa, acima do 80%. Os clientes que usam, gostam e nos procuram novamente." Outro trunfo é o aplicativo adaptado, com cores, letras e usabilidade agradável aos idosos. Para chegar ao modelo atual foram feitos testes de viabilidade e hoje Gabriel orgulha-se de ter um cliente de 94 anos que utiliza o app sozinho. E mesmo se os clientes não queiram ou não saibam usar smartphone, familiares podem cadastrá-los e operarem o app à distância. Para o futuro, a empresa deseja expandir suas operações para São Paulo e outras cidades.

Na opinião da consultora do Sebrae-SP Cristiane Sevilla, um dos pontos de atenção dos negócios voltados para os idosos é respeitar as limitações deles. "Aquelas empresas que utilizam soluções digitais precisam facilitar sempre a interface tecnológica, simplificar ao máximo", diz. Para ela, essa questão pode ser uma barreira para captar clientes, já que muitos idosos não gostam ou mesmo não sabem usar tablets e smartphones. Mesmo assim, a consultora avalia que o mercado da terceira idade tem algumas peculiaridades positivas. "É um mercado crescente, com muita gente vivendo mais e melhor. Muitos têm um perfil ótimo para o consumo, como a renda certa da aposentadoria e a disponibilidade de tempo", analisa.

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